O criador de gado de corte tem um inquilino que custa muito caro ao seu bolso e que, em boa parte das vezes, está devendo o aluguel. No entanto, com a situação bem manejada, esta categoria pode trazer lucro significativo ao pecuarista. São as matrizes do rebanho, quem chamou atenção para o tema foi o zootecnista e gerente de fomento de programas de melhoramento genético da ABCZ, (Associação Brasileira de Criadores de Zebu), Ricardo Abreu.
De acordo com o especialista, falta ao criador brasileiro, de modo geral, conhecer seu rebanho e identificar os indivíduos, estando ciente de seu desempenho em potencial. “Uma das grandes funções nossas dentro da parte de fomento da ABCZ é gerar informação em todos os aspectos, seja no melhoramento genético, na produção, no manejo, na gestão da atividade para que o criador conheça o seu rebanho e, através do melhoramento, ele identifique aqueles animais que estão respondendo positivamente ao seu sistema de produção, que ele multiplique esta genética e descarte os animais que não servem.
Conforme explicou Abreu, este processo hoje ocorre de maneira mais comum com os touros, enquanto as matrizes são relegadas a um segundo plano. “Um ponto fundamental é que, para conhecer o seu rebanho, o criador tem que estar voltado principalmente às suas matrizes. Este é o grande desafio, porque a matriz é o grande patrimônio dentro do sistema de cria. Claro que o impacto de um touro melhorador através da inseminação artificial abrange muito e não tem fronteira, mas a base do melhoramento, a base da cria para fazer o animal melhorador provém da matriz, ela é a grande matéria-prima”.
O criador tem que observar e focar nas matrizes, temos que parar de praticar aquela pecuária extrativista, só da quantidade, para focar na qualidade. Se o criador começar a olhar um grupo de fêmeas dentro da estação de monta, ele vai ver que em um lote de 80 a 100 fêmeas, algumas emprenham na primeira dose da IATF ou no primeiro repasse na monta natural.
E tem outras que comeram do mesmo pasto, beberam da mesma água, lamberam do mesmo sal mineral, estão no mesmo manejo, mas com duas doses de sêmen ou com o touro melhorador de repasse não emprenham. É daí que você já separa aquela que tem eficiência reprodutiva daquela que nem emprenha, mas pra isso você tem que medir, tem que estar conhecendo a sua fêmea,” indicou o zootecnista.
Nós temos muitos rebanhos que nem fêmea identificam, como você vai medir aquilo que não está identificado ? Então vale um puxão de orelha”, “Nós temos que acelerar isto e subir a régua. Como se faz isso ? Descartando a fêmea que está sendo aquela inquilina cara, que não está pagando o aluguel dela no pasto”, aconselhou.
Abreu disse que a realidade de grande parte das fazendas brasileiras, usando fêmeas sem avaliação, é responsável pelo peso médio à desmama ficar na casa dos 170 kg, enquanto em programas de seleção como o PMGZ, o foco está em um patamar elevado, buscando desmamar a cria com média de 240 kg. “Tem que descartar. O melhoramento genético só funciona com canivete. Tirando aquilo que não serve, aí a gente vai subir a régua”, recomendou.
O zootecnista estimou que existe hoje um volume expressivo de fêmeas a serem descartadas mesmo dentro dos programas de melhoramento genético de gado de corte no Brasil.
“Tranquilamente 30% das vacas ativas dentro de todos os programas de melhoramento genético não atendem aos valores genéticos, ou não são equilibradas em todas as características. Então nós temos, de cara, 30% das fêmeas que já podem ser descartadas dentro daquilo que se avalia. Imagine aquilo que não se avalia ainda, que são 57 milhões de vacas que têm condição de emprenhar”, indagou.
Para contribuir para a aceleração do melhoramento genético, Abreu informou que a meta da ABCZ é priorizar neste primeiro semestre a genotipagem de outros 50 mil animais, como foco nas matrizes, aumentando a confiabilidade da informação. “Vamos olhar agora para a qualidade. A missão nossa a curto prazo é levar tudo isto que a gente está falando aqui, com foco em fêmea, para o campo”.
Fonte: Giro do Boi